sexta-feira, 22 de março de 2013

Debate aceso no Palácio da Independência



Presidida pelo Sr. General Alexandre de Sousa Pinto, Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM), que tem a sua sede no Palácio da Independência, o colóquio do dia 7 de Março decorreu na sala D. Antão Vaz de Almada perante uma assistência de cerca de 50 pessoas.


 Antes das conferências usou da palavra o Engº Carlos Calado para fazer uma brevíssima apresentação do que é a Associação Cristóvão Colon, da qual é presidente.







O primeiro conferencista foi o Sr. Coronel Prof. Rui Carita, da CPHM, com o tema intitulado «Cristóvão Colombo e a Madeira – antecedentes e consequências da primeira viagem às Antilhas em 1492»

Num estilo coloquial que oscilou entre o irónico e o sério, o Coronel Prof. Rui Carita começou por mostrar vários retratos que pretenderam representar Colombo, destacando o mais conhecido e famoso, existente no Metropolitan Art Museum de Nova Iorque, e pintado por Sebastiano del Piombo. Depois mostrou imagens de diversos locais onde se assinala a presença de Colombo, sem que, no entanto, o navegador alguma vez lá tenha estado. Estão nesta situação, por exemplo, a Casa de Colón em Valladolid, onde pretensamente Colón teria morrido, e em Portugal, a chamada Casa do Esmeraldo no Funchal, da qual resta uma janela, actualmente deslocada para uma quinta e a Casa de Colombo em Porto Santo: ironicamente, a Casa do Esmeraldo é de construção posterior à época do navegador e não há qualquer prova de que ele alguma vez tenha vivido em Porto Santo.
Referiu-se a vários monumentos erigidos em honra e memória de Colon, entre os quais um em Galway, na Irlanda, onde o navegador teria passado em 1477 numa viagem comercial às Ilhas Britânicas. Mostrou fotos de estátuas no Funchal e na Ilha de Santa Maria.
Durante a sua conferência, o orador destacou que Colombo especificou, ele próprio, ser um cidadão de Génova, numa afirmação taxativa que consta no Documento Asseretto.
Sobre as consequências da primeira viagem, o orador destacou que, imediatamente após o regresso de Colombo, o Rei D. João II mandou fortificar o porto do Funchal.


A conferência do Dr. João Abel da Fonseca (Academia Portuguesa da História) decorreu em estilo bastante animado, tendo o orador manifestado, por mais do que uma vez, que não vinha trazer nada de novo, nada que a maioria dos presentes não conhecesse já – o que vinha trazer ao tema era o seu entusiasmo!
Com o título “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és – a propósito dos encontros de Cristóvão Colon», o orador foi estabelecendo uma teia de ligações familiares entre Cristóvão Colon e a nobreza portuguesa, por via do seu casamento com Filipa Moniz Perestrelo, filha de Bartolomeu Perestrelo e Isabel Moniz, bem como ligações dos seus apoiantes com a mais alta nobreza, nomeadamente com a família Bragança, das quais resultaram, mais tarde, laços matrimoniais entre a família Colón e a família Bragança.
Quando veio a Portugal, na viagem de regresso, Cristóvão Colon foi acompanhado até Vale do Paraíso, para o encontro com o Rei D. João II, por D. Martinho de Noronha, descendente do Bispo de Lisboa, o qual teve filhos com Isabel Perestrelo e com Branca Perestrelo, irmãs de Bartolomeu Perestrelo, e portanto tias da mulher de Colon.
 Nesta sua conversa, a que infelizmente faltaram imagens com os quadros genealógicos, o que teria possibilitado a sua imediata percepção, o orador referiu, por mais do que uma vez, ligações que ascendiam até Dª Inês de Castro.


Antes do período de debate, o Ten. Coronel Brandão Ferreira,  da Comissão Executiva do ciclo comemorativo colocou em destaque a sua concretização e os objectivos do mesmo.





O período de debate foi bastante aceso, principalmente pela polémica em torno da afirmação do Coronel Prof. Rui Carita, de que era um cidadão de Génova.
O primeiro dos intervenientes pelo público começou por perguntar se o Prof. Rui Carita não achava estranho que, afirmando-se Colombo como um cidadão de Génova (tal como referido na palestra), não tivesse atribuído um único topónimo italiano no Novo Mundo, e antes tivesse atribuído dezenas de nomes portugueses nos locais descobertos. O Prof. Rui Carita respondeu que achava estranho, mas não tinha explicação para o facto.
Um outro dos intervenientes começou por referir-se ao quadro do Metropolitan Art Museum destacando que o Museu pagara por ele 20 milhões de dólares por representar Colombo, mas que, afinal, já se concluíra que não fora pintado por Del Piombo, o qual, aliás, nem conhecera o navegador, a legenda com o nome tinha sido acrescentada posteriormente e o retratado era um clérigo italiano. Em suma, um logro completo, tal como a história do Colombo genovês.
Sobre o Documento Asseretto, o mesmo interveniente destacou que é um papel cada vez mais contestado, tratando-se de um pretenso documento judicial, mas escrito com três diferentes tipos de letra, em dois textos distintos que foram juntos como se de um só se tratasse.
Um outro interveniente questionou directamente o conferencista se ele conhecia realmente o Documento Asseretto ou se apenas se limitava a repetir o que tinha lido ou ouvido. Concluiu-se que o orador se limitara a repetir o que ouvira, o que lhe mereceu acesas críticas da audiência. O conferencista Dr. João Abel da Fonseca criticou também o Documento Asseretto, destacando que são várias folhas que teriam estado cosidas entre si, mas que existem muitas páginas em branco entre elas, e que incrivelmente, há texto escrito por cima do espaço onde estaria o cordel que as cosia, sinal ineludível de que é um “documento” sem qualquer credibilidade.

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